sábado, 17 de dezembro de 2011

Capítulo 2 A

O ano de 2007 estava mudando o meu jeito de ser, pensar e agir.

                Fui um orgulhoso disfarçado em meiguice. Meu olhar profundo escondia uma tristeza. Um vazio. E a todo tempo desviava-se de outros olhos para não se deixarem trair. Minha evidente inquietude não passava de um escudo para não transparecer o que eu realmente sentia. Sou uma pessoa verdadeira, que chora e sorri com a mesma simplicidade de uma criança. Minha falta de coragem era disfarçada em falta de tempo, mas era uma imagem verdadeira. A imagem de um filho de Deus, perdido e desolado. Uma criatura escondida atrás de uma falsa fortaleza.
               Disseram-me uma vez que sou uma pedra preciosa sem lapidação. Não tenho e nunca tive a pretensão de ser lapidado, afinal o mais bonito da ostra é seu âmago.
            Hoje estou feliz em simplesmente ser o que sou e não aquilo que tentava, a todo custo, passar para as pessoas. Erro e sofro com esses erros, sabendo que errei apenas para convencer a mim mesmo. Modéstia a parte, sou uma pessoa maravilhosa, um ser humano bondoso e não o homem orgulhoso e prepotente que tentava ser. Preconceituoso comigo mesmo. Sempre convivi com minhas neuroses e buscas incessantes que não chegavam a lugar nenhum, pois nem mesmo eu sabia onde queria chegar. Minha alegria era disfarçada, mas eu tinha todas as artimanhas para me mostrar diferente do que era.

              Agora me sinto outra pessoa. Lapidado e sem disfarces. Alegre e obstinado. Uma pessoa de ação e sem medo de ser feliz. Aceito o que falam a meu respeito como criticas construtiva, para que eu me fortaleça e amadureça psicologicamente.
               Apesar de algumas coisas ruins que me acontecem eu faço como a música: levanto, sacudo a poeira e dou a volta por cima.
              Hoje tenho certeza que ter a opção sexual diferente não é doença ou conseqüência de uma decepção amorosa. Isso já vem de berço.
            Desde que me descobri sexualmente sinto atração por outros homens e sempre usei uma máscara, pois aquilo parecia errado. Eu não queria ser um “gay”.
            Eu pensava nas convenções da sociedade. Constituir minha família. Esposa, filhos, o orgulho de meus pais. Mas não era isso que me fazia feliz.
             Minha primeira transa foi aos 14 anos com um amigo da minha infância e não foi muito legal, pois éramos muito jovens e inexperientes.
           Apesar de olhar para os homens com desejo de tê-los, levei onze anos para me entregar a alguém.
           Sempre que eu andava nas ruas e via um homem que me atraísse, quando chegava em casa me masturbava, mas ainda assim achava aquilo errado.
          Eu era um adolescente distante e sonhador. Não fazia amigos por medo de sentir atração e acabar me traindo ou até mesmo sentir algo mais forte e descobrir ou ter certeza daquilo de que eu fugia.
Aos 24 anos, conheci uma pessoa que se tornou meu melhor amigo, quase um irmão. Éramos confidentes um do outro. Eu sabia tudo da sua vida, mas ele, que acreditava saber tudo da minha, não sabia meu maior segredo.
         Aos poucos aquela amizade começou a confundir-se e o sentimento foi mudando. Só que eu não sabia o que era.
         Seria isso o amor? Ou apenas desejo?
         Aquilo estava me perturbando. Eu tinha medo de perder a sua confiança.
       O tempo se arrastava e eu não agüentava mais fingir e sufocar aqueles pensamentos insaciáveis que consumiam a minha paz e um dia resolvi que deveria pôr fim àquela loucura e cometi uma loucura maior ainda, tentei suicídio. Envenenei-me para não decepcionar meu amigo e acabei decepcionando os meus pais e irmãs, que sofreram muito.
           Graças a Deus aquilo passou, mas o pior ainda viria.