O ano
de 2007 estava mudando o meu jeito de ser, pensar e agir.
Fui um orgulhoso disfarçado em meiguice. Meu olhar
profundo escondia uma tristeza. Um vazio. E a todo tempo desviava-se de outros
olhos para não se deixarem trair. Minha evidente inquietude não passava de um
escudo para não transparecer o que eu realmente sentia. Sou uma pessoa
verdadeira, que chora e sorri com a mesma simplicidade de uma criança. Minha
falta de coragem era disfarçada em falta de tempo, mas era uma imagem
verdadeira. A imagem de um filho de Deus, perdido e desolado. Uma criatura
escondida atrás de uma falsa fortaleza.
Disseram-me uma vez que sou uma pedra preciosa sem
lapidação. Não tenho e nunca tive a pretensão de ser lapidado, afinal o mais
bonito da ostra é seu âmago.
Hoje estou feliz em simplesmente ser
o que sou e não aquilo que tentava, a todo custo, passar para as pessoas. Erro
e sofro com esses erros, sabendo que errei apenas para convencer a mim mesmo.
Modéstia a parte, sou uma pessoa maravilhosa, um ser humano bondoso e não o
homem orgulhoso e prepotente que tentava ser. Preconceituoso comigo mesmo.
Sempre convivi com minhas neuroses e buscas incessantes que não chegavam a
lugar nenhum, pois nem mesmo eu sabia onde queria chegar. Minha alegria era
disfarçada, mas eu tinha todas as artimanhas para me mostrar diferente do que
era.
Agora me sinto outra pessoa. Lapidado e sem disfarces.
Alegre e obstinado. Uma pessoa de ação e sem medo de ser feliz. Aceito o que
falam a meu respeito como criticas construtiva, para que eu me fortaleça e
amadureça psicologicamente.
Apesar de algumas coisas ruins que me acontecem eu
faço como a música: levanto, sacudo a poeira e dou a volta por cima.
Hoje tenho certeza que ter a opção sexual diferente
não é doença ou conseqüência de uma decepção amorosa. Isso já vem de berço.
Desde que me descobri sexualmente sinto atração por
outros homens e sempre usei uma máscara, pois aquilo parecia errado. Eu não
queria ser um “gay”.
Eu pensava nas convenções da sociedade. Constituir minha família. Esposa, filhos, o orgulho de meus pais. Mas não era
isso que me fazia feliz.
Minha primeira transa foi aos 14 anos com um amigo da
minha infância e não foi muito legal, pois éramos muito jovens e inexperientes.
Apesar de olhar para os homens com desejo de tê-los,
levei onze anos para me entregar a alguém.
Sempre que eu andava nas ruas e via um homem que me
atraísse, quando chegava em casa me masturbava, mas ainda assim achava aquilo
errado.
Eu era um adolescente distante e sonhador. Não fazia
amigos por medo de sentir atração e acabar me traindo ou até mesmo sentir algo
mais forte e descobrir ou ter certeza daquilo de que eu fugia.
Aos 24 anos, conheci uma pessoa que
se tornou meu melhor amigo, quase um irmão. Éramos confidentes um do outro. Eu
sabia tudo da sua vida, mas ele, que acreditava saber tudo da minha, não sabia
meu maior segredo.
Aos poucos aquela amizade começou a confundir-se e o
sentimento foi mudando. Só que eu não sabia o que era.
Seria isso o amor? Ou apenas desejo?
Aquilo estava me perturbando. Eu tinha medo de perder
a sua confiança.
O tempo se arrastava e eu não agüentava mais fingir e
sufocar aqueles pensamentos insaciáveis que consumiam a minha paz e um dia
resolvi que deveria pôr fim àquela loucura e cometi uma loucura maior ainda,
tentei suicídio. Envenenei-me para não decepcionar meu amigo e acabei
decepcionando os meus pais e irmãs, que sofreram muito.
Graças a Deus aquilo passou, mas o pior ainda
viria.