domingo, 18 de março de 2012

CAPITULO 2 B...


   Voltei para casa mais deprimido do que estava antes de ir para o hospital e agora ainda sentia vergonha.
   Meu amigo desconfiou da minha atitude e aos poucos se afastou de mim.
   Sem ter com quem desabafar, eu sofria. E minha família sofria por me ver aprisionado em meu silencio.
  Um dia, sem conseguir controlar minhas lágrimas, minha mãe flagrou-me sentado na sala, chorando. Insistiu para que eu me abrisse com ela e contasse o que havia acontecido.
   Tentei esquivar-me dizendo que não era nada, mas diante de sua insistência e da necessidade de dividir aquele peso com alguém, resolvi contar. Com um pouco de receio, perguntei:
   -A senhora quer mesmo saber o que está acontecendo?
  -Claro, meu filho. –respondeu minha mãe, enxugando uma lágrima teimosa que rolava em sua face.
   Pedi a ela que fosse ao meu quarto pegar um caderno
que eu tinha. Neste caderno havia muitos poemas, pensamentos e traduções de músicas. Pedi a ela que lesse em uma pagina a tradução de uma música, que, hoje em dia, por mais que eu tente não consigo lembrar. Acho que o tempo me fez esquecer tudo.
   Ela leu a letra da música que dizia assim: ”Eu já não consigo mais lutar contra esse sentimento. O que começou como amizade, agora era amor.”
   Realmente eu não conseguia lutar contra aquele amor. Tornei-me fraco, sem um porto seguro, sem chão.
Depois de ler, seu semblante ficou aliviado. Ela não imaginava.
-É uma mulher casada? –perguntou.
-Não! –respondi surpreso com a pergunta.
-Ela é mais velha que você?
Aquele bombardeio de perguntas me deixou mais aflito. Ela não havia entendido o que estava acontecendo. Senti-me mais enclausurado.
-Esquece mãe. –tentei encerrar o assunto e limpei meu rosto. – É bobagem minha. Vai passar.
Ela saiu da sala e foi falar com minha irmã mais velha.
       Isabel me conhecia melhor do que ninguém. Sabia quando eu estava triste ou amargurado apenas pelo tom de minha voz. Ela entrou na sala e perguntou-me:
   -Que carta é essa que a mãe me falou? Onde está?
   Entreguei a ela meu caderno, já com a página aberta. Ela leu a tradução da música e seu olhar parou no meu.
   Naquele momento eu sabia que tudo viria à tona. Ela me perguntou:
   -É o Guilherme, não é?
Mais uma lágrima teimou em cair. Confirmei com um
aceno de cabeça. Ela sentou-se ao meu lado segurou minha mão e falou:
-Éder, porque todo esse sofrimento? Ele não merece as tuas lágrimas nem o teu desespero. Você é jovem, bonito e pode ter quem quiser ao teu lado. Pode ter certeza que você ainda será muito feliz e terá alguém que saiba te dar valor. Quanto a mim, a mãe e a toda tua família, não te preocupa, nada irá mudar. Nós te amamos muito. Vamos te apoiar e ajudar a passar essa fase. Vamos conversar com a mãe, ela está sofrendo muito.
Tenho certeza que nada mudará. Ela continuará te amando.
Eu tive muito medo. Seria uma decepção para Dona Dilma. Seu único filho era homossexual.
Refleti por alguns segundos e então me levantei e dei um forte abraço em minha irmã agradecendo seu apoio e amor.
Fomos até o pátio de minha casa, onde minha mãe aguardava ansiosamente. Puxamos duas cadeiras e sentamos ao lado dela. Isabel perguntou diretamente:
-Mãe, você não sabe o que está acontecendo com o Éder, mas seja lá o que for seu amor por ele mudará?
Ela engoliu em seco e respondeu:
-Claro que não Bel. Vocês são a minha vida. Faço o que for preciso para vê-los bem. –    Mamãe voltou seu olhar para mim e continuou, - Eu te amo muito meu filho. Quero muito te ver feliz e me dói à alma ver-te triste pelos cantos sem conversar com ninguém, sem se abrir. Você está sofrendo e nós também.
   Naquele momento Isabel interferiu e contou o que estava acontecendo. Falou porque e por quem eu estava sofrendo. E o motivo de eu ter tentado o suicídio.
    Finalmente eu havia assumido para minha mãe a minha opção e ela não escondeu que apenas engolia esta situação. Para ela aquilo era doença ou trabalho de feitiçaria, como ela dizia.
O tempo passou, a depressão se foi e minha mãe começava a me aceitar e me apoiar. Mas foi muito difícil. Eu imaginava que com o apoio de minha família seria mais fácil assumir minha homossexualidade, mas não foi assim. 
Confesso que fiquei decepcionado com a atitude que ela tomou. Lembro que naquela época criei uma frase que me fez acreditar que seria diferente com meu pai. A sua reação seria outra. Mas meu pai é uma pessoa antiquada e criado a moda antiga e mais uma vez o medo me fez calar e resolvi não abrir-me com ele. A frase é: ”Quem pensamos ser diferente, é diferente do que pensamos ser.” Será que ele entenderia? Achei melhor não arriscar.