sexta-feira, 7 de outubro de 2011

CAPITULO 1B.


Continuação do capítulo 1B...


  Caminhamos lado a lado como dois grandes amigos.
  Ao passarmos na estatua de Iemanjá paramos e a olhamos em total silencio.
  Não sei o que passava na cabeça de Fabrício naquele momento. Será que ele pedia ou agradecia?
  Eu agradecia.
  Agradecia por tê-lo conhecido de uma maneira tão inesperada e por estar tão feliz. Isso era coisa do destino.
 Naquele momento, ousei pedir à Rainha das Águas para permitir que aquela felicidade continuasse, que ela iluminasse meu caminho e num arroubo de egoísmo, pedi para que houvesse reciprocidade naquela felicidade.
  Após fazer o sinal da cruz, continuamos a caminhar.
 Parecia que já o conhecia há muito tempo. Talvez de outras vidas. Havia uma cumplicidade silenciosa entre nós.
  Não sei se ele estava feliz, mas eu estava. Estava muito feliz.
  Caminhamos um pouco e Fabrício parou. Parou e ficou olhando para mim com olhar pensativo.
  Dei mais alguns passos e ao perceber sua parada, também parei e perguntei:
  -O que foi? Por que parou?
  -Você não percebeu nada estranho?
  -Não! –respondi confuso- Por quê?
  -Não nos esquecemos de nada?
  -Acho que não! Respondi dando de ombros.
  Mas ele insistiu:
  -Tem certeza?
  Mantive o silencio por um instante como que a buscar algo na memória e falei:
  -Acho que não nos esquecemos de nada. Acabamos de nos conhecer. Vem, vamos procurar um lugar para comer algo. Estou faminto. Você não está?
  Mas Fabrício continuava parado e com um sorriso no olhar. Então ele deu um passo até onde eu estava e disse:
  -Fabrício. Meu nome é Fabrício. Esquecemos de nos apresentar.
  Caímos na gargalhada.
  Apertei a mão que ele me estendia e disse:
  -Muito prazer, Fabrício. Meu nome é Éder. Que bola fora, hein!
  -Não esquenta Éder. Agora vamos que eu também estou faminto.
 Resolvemos entrar em uma panquecaria que não estava super lotada como tudo na avenida àquela hora. Com a fome que a gente estava não dava para esperar muito. Compramos duas panquecas de frango e requeijão e duas latinhas de cerveja. Resolvemos sentar em um banco da avenida, pois estava fazendo muito calor, e enquanto comíamos o assunto foi fluindo:
  -E aí? –perguntei- Me fala um pouco mais de você. Qual sua idade? Trabalha? Estuda? Onde mora?
  -Bom, eu tenho 24 anos e no momento estou desempregado. Já terminei o ensino médio e moro com minha mãe e dois irmãos, Daniel e Gabriela.
  -E seu pai, é falecido?
 -Para mim é como se fosse. – Fabrício projetou seu olhar para o horizonte - Ele nunca esteve presente na minha vida e só trazia problemas para minha mãe. Amantes, dívidas e muitas outras coisas. Mas isso não importa agora. - disse retornando daquele devaneio momentâneo – Prefiro não falar dele. E você o que faz?
  -Também estou desempregado. Terça-feira farei uma entrevista para uma vaga de recepcionista em um hotel. Estou bem confiante, pois é algo de que gosto muito. Moro com meus pais e minha irmã mais nova. Tenho outras três irmãs, todas casadas.
  Neste ponto, Fabrício interrompeu-me:
  -Que idade você tem?
  -Adoro quando me perguntam isso- disse entre risos- Quantos anos você acha que eu tenho?
  -Vinte e quatro?
  -Não.
  -Mais ou menos?
  -Mais.
  -Puxa! Dava-te no máximo vinte e quatro!
  -Mas eu tenho vinte e nove.
  -Não parece.
  -Nem tudo que parece é.
  -É verdade!
  Terminamos de comer, pegamos outra cerveja e fomos caminhar mais um pouco na avenida.
 Já estava amanhecendo quando resolvemos ir embora, afinal tinha o almoço com a família no primeiro dia de 2007. Em nenhum momento Fabrício demonstrou algo. Acho que estava criando uma expectativa em relação a ele. Sentamos lado a lado no ônibus, trocamos mais algumas palavras e o cansaço venceu-me e acabei adormecendo. Tive um sonho com ele.
 No sonho, eu estava em uma festa, sozinho, quando o avistei encostado em um balcão tomando uma cerveja. Encantei-me. Comecei a cuidá-lo e desejava que ele notasse minha presença, mas ele não me olhou.
 Percebi que alguém estava me observando e fui a seu encontro. Começamos a conversar e nos beijamos.
 Eu estava curtindo aquele momento, mas meu sentido estava naquele jovem que continuava alheio à minha presença.
 Eu estava abraçado com meu “ficante” e notei que o jovem afastou-se do balcão e aproximou-se de nós.
 Minha boca secou.
 Ele me olhou e sorriu. Era Fabrício.
 Estendi minha mão, sem que meu “ficante” percebesse, e segurei a mão de Fabrício. Mais uma vez ele sorriu e afastou-se.
 Eu não acreditava que havia feito aquilo, mas não iria perder esta oportunidade. Puxei meu acompanhante pela mão e fomos onde estava Fabrício. Apertei sua mão e cochichei apressadamente em seu ouvido enquanto encenava um abraço de surpresa:
 -Faz de conta que a gente se conhece.
 Ele concordou discretamente.
 Apresentei-o como vizinho de uma tia.
 Uma música começou a tocar e fomos, eu e o outro
jovem, para a pista de dança, de onde eu podia olhar para Fabrício e admirar sua beleza. Após algumas musicas meu par resolveu ir embora da festa e eu também não ficaria muito mais, pois estava cansado, mas antes resolvi passar perto do lugar onde estava Fabrício. Olhei-o no fundo dos olhos quando passei a seu lado.
 Eu estava descendo a escadaria e virei-me. Nossos olhos se encontraram novamente.
 Voltei e puxei assunto, mas ele calou-me com um beijo impetuoso.
 Eu estava no ápice do meu sonho quando acordei. Sorridente, olhei para o lado e assustei-me.
 Sentada comigo, estava uma senhora.
 Fiquei confuso e perguntei-me se, conhecer Fabrício não havia passado de um sonho. Será que voltaríamos a nos encontrar? Mas como, se não havíamos trocado endereço ou telefone. Que ódio senti de mim.


Continuação do Capítulo 1   no próximo post...

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