Continuação do capítulo 1B...
Caminhamos lado a lado como dois grandes amigos.
Ao passarmos na estatua de Iemanjá paramos e a olhamos
em total silencio.
Não sei o que passava na cabeça de Fabrício naquele
momento. Será que ele pedia ou agradecia?
Eu agradecia.
Agradecia por tê-lo conhecido de uma maneira tão
inesperada e por estar tão feliz. Isso era coisa do destino.
Naquele momento, ousei pedir à Rainha das Águas para
permitir que aquela felicidade continuasse, que ela iluminasse meu caminho e
num arroubo de egoísmo, pedi para que houvesse reciprocidade naquela
felicidade.
Após fazer o sinal da cruz, continuamos a caminhar.
Parecia que já o conhecia há muito tempo. Talvez de
outras vidas. Havia uma cumplicidade silenciosa entre nós.
Não sei se ele estava feliz, mas eu
estava. Estava muito feliz.
Caminhamos um pouco e Fabrício parou. Parou e ficou
olhando para mim com olhar pensativo.
Dei mais alguns passos e ao perceber sua parada,
também parei e perguntei:
-O que foi? Por que parou?
-Você não percebeu nada estranho?
-Não! –respondi confuso- Por quê?
-Não nos esquecemos de nada?
-Acho que não! Respondi dando de ombros.
Mas ele insistiu:
-Tem certeza?
Mantive o silencio por um instante como que a buscar
algo na memória e falei:
-Acho que não nos esquecemos de nada. Acabamos de nos
conhecer. Vem, vamos procurar um lugar para comer algo. Estou faminto. Você não
está?
Mas
Fabrício continuava parado e com um sorriso no olhar. Então ele deu um passo
até onde eu estava e disse:
-Fabrício.
Meu nome é Fabrício. Esquecemos de nos apresentar.
Caímos na gargalhada.
Apertei a mão que ele me estendia e disse:
-Muito prazer, Fabrício. Meu nome é Éder. Que bola
fora, hein!
-Não esquenta Éder. Agora vamos que eu também estou
faminto.
Resolvemos entrar em uma panquecaria que não estava
super lotada como tudo na avenida àquela hora. Com a fome que a gente estava
não dava para esperar muito. Compramos duas panquecas de frango e requeijão e
duas latinhas de cerveja. Resolvemos sentar em um banco da avenida, pois estava
fazendo muito calor, e enquanto comíamos o assunto foi fluindo:
-E aí? –perguntei- Me fala um pouco mais de você. Qual sua idade? Trabalha? Estuda?
Onde mora?
-Bom, eu tenho 24 anos e no momento estou
desempregado. Já terminei o ensino médio e moro com minha mãe e dois irmãos,
Daniel e Gabriela.
-E seu pai, é falecido?
-Para mim é como se fosse. – Fabrício projetou seu
olhar para o horizonte - Ele nunca esteve presente na minha vida e só trazia
problemas para minha mãe. Amantes, dívidas e muitas outras coisas. Mas isso não
importa agora. - disse retornando daquele devaneio momentâneo – Prefiro não
falar dele. E você o que faz?
-Também estou desempregado. Terça-feira farei uma
entrevista para uma vaga de recepcionista em um hotel. Estou bem confiante,
pois é algo de que gosto muito. Moro com meus pais e minha irmã mais nova.
Tenho outras três irmãs, todas casadas.
Neste ponto, Fabrício interrompeu-me:
-Que idade você tem?
-Adoro quando me perguntam isso- disse entre risos-
Quantos anos você acha que eu tenho?
-Vinte e quatro?
-Não.
-Mais ou menos?
-Mais.
-Puxa! Dava-te no máximo vinte e quatro!
-Mas eu tenho vinte e nove.
-Não parece.
-Nem tudo que parece é.
-É verdade!
Terminamos de comer, pegamos outra cerveja e fomos
caminhar mais um pouco na avenida.
Já estava amanhecendo quando
resolvemos ir embora, afinal tinha o almoço com a família no primeiro dia de
2007. Em nenhum momento Fabrício demonstrou algo. Acho que estava criando uma
expectativa em relação a ele. Sentamos lado a lado no ônibus, trocamos mais
algumas palavras e o cansaço venceu-me e acabei adormecendo. Tive um sonho com
ele.
No sonho, eu estava em uma festa,
sozinho, quando o avistei encostado em um balcão tomando uma cerveja.
Encantei-me. Comecei a cuidá-lo e desejava que ele notasse minha presença, mas
ele não me olhou.
Percebi que alguém estava me
observando e fui a seu encontro. Começamos a conversar e nos beijamos.
Eu estava curtindo aquele momento,
mas meu sentido estava naquele jovem que continuava alheio à minha presença.
Eu estava abraçado com meu “ficante”
e notei que o jovem afastou-se do balcão e aproximou-se de nós.
Minha boca secou.
Ele me olhou e sorriu. Era Fabrício.
Estendi minha mão, sem que meu
“ficante” percebesse, e segurei a mão de Fabrício. Mais uma vez ele sorriu e
afastou-se.
Eu não acreditava que havia feito
aquilo, mas não iria perder esta oportunidade. Puxei meu acompanhante pela mão
e fomos onde estava Fabrício. Apertei sua mão e cochichei apressadamente em seu
ouvido enquanto encenava um abraço de surpresa:
-Faz de conta que a gente se conhece.
Ele concordou discretamente.
Apresentei-o como vizinho de uma tia.
Uma música começou a tocar e fomos, eu e o outro
jovem, para a pista de dança, de onde
eu podia olhar para Fabrício e admirar sua beleza. Após algumas musicas meu par
resolveu ir embora da festa e eu também não ficaria muito mais, pois estava
cansado, mas antes resolvi passar perto do lugar onde estava Fabrício. Olhei-o
no fundo dos olhos quando passei a seu lado.
Eu estava descendo a escadaria e
virei-me. Nossos olhos se encontraram novamente.
Voltei e puxei assunto, mas ele
calou-me com um beijo impetuoso.
Eu estava no ápice do meu sonho quando acordei.
Sorridente, olhei para o lado e assustei-me.
Sentada comigo, estava uma
senhora.
Fiquei confuso e perguntei-me se, conhecer
Fabrício não havia passado de um sonho. Será que voltaríamos a nos encontrar?
Mas como, se não havíamos trocado endereço ou telefone. Que ódio senti de mim.
Continuação do Capítulo 1 no próximo post...
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