terça-feira, 4 de outubro de 2011

Capitulo 1A.

  Tudo começou no dia 31 de dezembro de 2006. Eu estava sentado na beira da praia do Cassino e meu relógio marcava 23h42min. 
  Como todo réveillon a praia estava lotada e em meio a milhares de pessoas eu me sentia sozinho, alias, sozinho não, em minha frente havia uma garrafa de champagnes e uma taça vazia, as minhas únicas companheiras. Meu olhar era triste, pensativo e ao mesmo tempo encantado ao visualizar a grandiosidade do oceano.
Naquele dia eu vestia uma calça jeans, tênis branco e uma camiseta verde. Lembro como se estivesse revivendo aquele momento.
  Minha família surpreendeu-se quando falei em romper o ano na praia. Sozinho. Ficaram todos muito chateados. 
  Minha mãe estava com o semblante preocupado, mas, lhe disse que gostaria de entrar um ano novo diferente de todos os outros e que a partir dali minha vida iria mudar, e mudou mesmo.
  Vesti a única camiseta verde que eu tinha, pois queria buscar esperança de uma nova vida, um novo trabalho, um novo amor. Esperança de um ano melhor. Eu não tinha consciência de que tudo seria realizado como um passe de mágica e que a partir daquele dia eu iria viver, sorrir e sonhar escondido nas sombras do preconceito.
  Eu não acreditava em amor verdadeiro e também não acreditava que um dia eu amaria e seria amado.
  Depois de duas decepções amorosas não queria me apaixonar novamente, mas acabei me apaixonando naquele 2007.
   Mas voltando ao presente, esqueci de me apresentar.
   Meu nome é Éder Blanco, tenho 32 anos, trabalho como fotógrafo e moro sozinho em um apartamento no centro de Rio Grande. Na época que esta história aconteceu eu estava desempregado, tinha 29 anos e morava com meus pais, e este foi o melhor ano de todos que vivi.
   Na praia as pessoas passavam por mim despercebidas, como se naquele espaço que eu ocupava não existisse ninguém.
   O tempo custava a passar e para mim era uma eternidade a chegada do novo ano. De vez em quando eu olhava para o relógio e voltava meu olhar para o nada.
   Naquele mesmo dia, no mesmo horário e na mesma praia alguém vivia uma historia parecida com a minha. Seu nome, ainda que eu não soubesse naquele momento, era Fabrício.
   Fabrício Oliveira era um jovem de 24 anos que também estava desiludido com a vida que estava vivendo. Desempregado e sem alguém para dividir suas alegrias e suas tristezas.
   Como ele mesmo me contou, a Avenida do Cassino estava lotada. Ele caminhava solitário rumo à praia. Suas únicas companheiras também eram uma garrafa de champagne e uma taça. Ele passava entre as pessoas como se a avenida estivesse vazia. Vazia como seu coração.
   Vestindo uma calça branca, camisa verde água e sandálias, Fabrício também buscava na virada daquele ano a esperança de uma vida nova, de um novo amor e principalmente de um ano melhor que 2006.
   Nós não tínhamos nos encontrado antes. Talvez até tivéssemos nos cruzado em algum lugar, mas nunca nos olhamos em nenhum instante.
   Ao chegar à beira da praia ele olhou a hora, seu relógio marcava 23h49min. Levantou a cabeça, olhou para a imensidão do mar e voltou seu olhar para as pessoas ao seu redor. Pessoas felizes com suas famílias, casais apaixonados, crianças brincando na areia sem saber o que o futuro reservava. Jovens bêbados, mas felizes.
   A uns trinta metros ele me avistou sentado na areia, também solitário. Foi como mágica. E as pessoas sumiram de sua visão. Fabrício só enxergava a mim. Ele não conseguiu controlar suas pernas que teimavam em levá-lo em minha direção. Caminhos lentos que aos poucos se apressaram para chegar onde estávamos. Seu coração pulsava descompassadamente. Fabrício não entendia o que estava acontecendo, ele só sabia que seu destino seria falar comigo.
   Em poucos minutos ele estava em pé atrás de mim.
   Olhávamos o mar, tristes e solitários até aquele momento.
   Olhamo-nos e ele deu um “oi” tímido.
   Confesso que achei estranho, ele ali parado tentando puxar assunto. Cheguei a pensar que estava me confundindo com alguém.
   -Olá! Respondi virando-me para o mar, indiferente à sua presença.
   Ele deve ter-se arrependido de ter caminhado até lá. Depois de um breve silêncio, Fabrício abaixou-se e me perguntou:
   -Posso te fazer companhia? Estou só e não gostaria de entrar o ano nessa solidão.
   Olhei fixamente para ele e respondi:
   -Um não você já tem em mente, agora é só correr atrás do sim - sorri. -Claro que pode. Só acho que hoje sou péssima companhia. Não vai ser legal entrar o ano ao lado de uma pessoa de baixo astral.
   Voltei o olhar para o mar e Fabrício desabafou aliviado:
   -Puxa amigo, então somos dois. Não estou nem um pouco legal. Briguei com minha mãe e me mandei pra cá.
   Convidei-o para sentar. Olhamos para o relógio, eram 23h57min.
   -Falta pouco! -exclamamos ao mesmo tempo. Sorrimos. Fazia tempo que a vida não arrancava nenhum sorriso de nós.
   Enquanto o silencio pairava entre nós a agitação continuava em alta entre as pessoas que aguardavam ansiosas pelo novo ano.
   Pegamos as nossas champagnes e retiramos o lacre. Como um coral ao fundo começava a contagem regressiva:
   -10, 9, 8, 7...
   Sacudimos as garrafas para estourar.
   -4, 3, 2, 1. Feliz Ano Novo!!!
   As champagnes estouraram juntas.
   Pessoas se abraçavam e olhavam para o céu para assistir o magnífico show pirotécnico dos fogos de artifício. Nós não prestamos atenção. Servi a taça de Fabrício e ele serviu a minha e brindamos.
   Então me dei conta do que acabara de fazer. Foi automático, quando percebi já tinha enchido sua taça. Será que ele achou aquela minha atitude estranha?Sei lá. O fato é que eu estava feliz e comemoramos a chegada de 2007.
   Todos cantavam a tradicional musica de final de ano:
   -Adeus ano velho. Feliz ano novo...
   Desejei para meu novo... Amigo:
   -Paz!
   Ele retribuiu:
   -Felicidade!
   Eu continuei:
   -Harmonia!
   E assim foi consecutivamente ele, eu, ele, eu...
   -Prosperidade!
   -Saúde!
   -Dinheiro no bolso!
   -Sonhos realizados!
   Após muitos desejos ficamos em silencio, olhando o mar. Mas faltava um. Olhamo-nos, levantamos as taças e desejamos um para o outro:
   -Amor!
   Mais uma vez sorrimos. Levantamos e nos abraçamos. Nossos corpos tremiam. O que estaria acontecendo entre nós? Será que era recíproco? Nós nem sabíamos o nome um do outro.
   Timidamente nos separamos e perguntei para Fabrício se ele estava com frio. Ele meneou a cabeça:
   -Não estou com frio, apenas senti algo diferente.
   -Não sei o que houve, também fiquei tremulo de repente. Talvez seja a emoção de um novo ano chegando, de um novo...
   Baixei a cabeça e outra vez ficamos em silêncio. Fabrício franziu a testa interrogativamente como que esperando o que eu iria dizer e rompeu o silencio indagando:
   -Um novo amor?
   Levantei a cabeça e concordei. Sorri. Nossos olhares encontraram-se e disseram algo.
   Lentamente nos aproximamos e nos abraçamos demoradamente. Senti que estava ficando excitado e me afastei. Meu rosto ruborizou-se. Tive medo de que Fabrício percebesse e falasse algo. Absolutamente sem jeito desfiz aquele silencio perguntando:
   -E então?
   -O que? -Perguntou Fabrício, também parecendo constrangido.
   -Vamos ficar por aqui?
   -Sei lá! Você quer dar uma volta?
   -Pode ser!
   -Então vamos! Vamos caminhar na avenida.
   Saí um pouco na frente, mas parei. Fabrício estava olhando para as garrafas de champagne que havíamos deixado na areia. Virou-se para mim e disse:
   -Espere! As champagnes ficam?
   -É claro! Temos que dar um destino a elas.
   Peguei uma garrafa, entreguei a outra a Fabrício e nos olhamos maldosamente. Os dois pensaram a mesma coisa. Sacudimos as garrafas e apontamos um para o outro. Tomamos um banho de champagne e caímos na gargalhada. Abraçamo-nos mais uma vez e fomos para a avenida.

O capitulo 1 tem continuação...

Um comentário:

paty disse...

véto,trazendo na alma essa essência de menino e uma alma presa em um corpo mortal...a alma não morre e independe de corpo,forma física,idade...sexo.se ama com ela,e não com o corpo,que é só matéria,que morre quando adoece,morre quando envelhece...o preconceito é um sentimento mesquinho,de pessoas que se prendem a"principios"pessoas que tem medo de ser feliz...nesse primeiro capitulo eu pude perceber com clareza a tamanha dor,que o amor fora do que se é julgado "comum" causa as pessoas.o jeito como eles ficaram constrangidos um com o outro mesmo sentindo uma necessidade comum aos dois...o amor,de forma diferente mas ainda amor,sentiram que existia naquele momento mas não tinham coragem de encarar,de se encarar,de se entregar... to doida esperando o livro completo..vai ser muito cheio de surpresas,intrigante,um assunto bem polêmico e de extrema importância.NÃO É AMOR O AMOR QUE VÊ O QUE O CORPO OFERECE,É SIM,AMOR O AMOR QUE VÊ O QUE A ALMA NECESSITA.DEPOIS DE TUDO OQUE EU LI DESSA OBRA INCRÍVEL,SÓ TENHO DUAS PALAVRAS:PARABÉNS VÉTO...